Hoje é o dia Internacional da Saúde Mental. Uma boa saúde mental significa se importar consigo mesmo e com as pessoas, ser capaz de julgar a si mesmo de forma cuidadosa e sensata, poder vivenciar e superar sentimentos negativos, estabelecer objetivos viáveis para si e sentir orgulho por suas conquistas. Saúde mental também tem a ver com construir uma auto-imagem positiva, se sentir predominantemente satisfeito com a vida e ser capaz de dar conta das suas atividades diárias.

A falta de conhecimento sobre o que é saúde mental e sobre os seus reais impactos no desenvolvimento das pessoas é profunda. O problema gerado por esta falta de conhecimento afeta duramente toda a sociedade, pois impede a criação de estratégias e de políticas públicas de prevenção de problemas mentais logo na primeira infância. Violência, mortes no trânsito, alcoolismo, gravidez precoce, uso de drogas, suicídio, evasão escolar e muitos outros problemas são gerados e/ou piorados por causa de dificuldades psicológicas que aparecem já na infância, mas que não são tratadas. Com isso, os problemas emocionais vão se complicando e se tornando crônicos ao longo da adolescência e da vida adulta até atingirem um ponto no qual o tratamento fica mais caro, a diminuição dos sintomas é menos provável e, o pior de tudo, o sofrimento da pessoa e da família envolvida já trouxe danos irreparáveis.

Todos nós perdemos com a falta de conhecimento e com o preconceito sobre saúde mental.

As escolas têm um papel importantíssimo para ajudar na detecção precoce de problemas emocionais na infância. É no ambiente escolar que milhões de crianças todos os dias, em todos os cantos do mundo, desenvolvem seus talentos, lutam contra as suas dificuldades e depositam em seus professores a esperança de serem escutadas e respeitadas.

Países como Canadá, Estados Unidos, França e Inglaterra têm o histórico de reconhecer a importância da saúde mental de forma ampla e rápida, promovendo ações em larga escala com foco na primeira infância para lidar com as consequências que os problemas mentais trazem para a sociedade.

As chamadas “escolas terapêuticas” acolhem crianças e adolescentes que já apresentam sintomas ou já receberam um diagnóstico de transtorno mental e oferecem um contexto de aprendizado adequado às suas necessidades. Por exemplo, a rede de escolas Camino Nuevo Charter Academy, nos EUA, oferece terapia de grupo aos estudantes e às suas famílias e treina a equipe educacional para lidar com problemas emocionais e criar uma ponte entre a escola e os serviços de saúde mental oferecidos pela comunidade. Outro exemplo é a pré-escola “Mi Escuelita Therapeutic Preschool”, no Sul da Califórnia, que foi especialmente criada para ajudar crianças de 3 a 5 anos vítimas de violência doméstica a quebrar o ciclo de violência, a começar um processo de cura e a trilhar um caminho escolar favorável.

Precisamos evitar que os problemas psicológicos se iniciem ou piorem. Para isso, é necessário criar iniciativas que vão além dos programas de desenvolvimento de habilidades sociais e emocionais e que tenham um foco ainda mais amplo e aprofundado na prevenção dos transtornos mentais já na primeira infância – período dos 0 aos 6 anos de idade.

Quando uma criança ou adolescente recebe um diagnóstico de distúrbio mental é sinal de que muito sofrimento e prejuízo no desenvolvimento já aconteceu e deixou marcas, na maioria das vezes, irreversíveis.

Uma iniciativa importante foi criada pelo Anna Freud National Centre for Children and Families, na Inglaterra, um centro de referência internacional no atendimento psicológico a crianças e adolescentes que eu tive a oportunidade de conhecer bem porque fiz o meu mestrado nesta área lá. Pensando na falta de conhecimento e de recursos sobre saúde mental este centro criou o Schools in Mind, uma rede gratuita de apoio às escolas através de vídeos, artigos, orientação, treinamentos e eventos sobre saúde mental para escolas.

Outro exemplo bacana na Inglaterra é o Mentally Healthy Schools do Heads Together que também tem o objetivo de promover o bem-estar mental de crianças e adolescentes em idade escolar através de informação e dicas gratuitas sobre saúde mental para professores e líderes educacionais.

Esses são alguns exemplos que podem inspirar profissionais e instituições brasileiras a tornar o tema da saúde mental mais acessível, democrático e humano.

Em uma era onde as tecnologias avançadas nos impõem quebras de paradigmas, formas inéditas de relacionamento e novos dilemas éticos é urgente oferecermos às gerações digitais um futuro com mais esperança, aconchego e acolhimento.