Foto de Sarah Penney na Unsplash

Por Fernanda Furia no LinkedIn

Os momentos especiais do dia a dia com os nossos filhos são verdadeiros tesouros. Compartilhar essas ocasiões nas redes sociais poderia ser uma forma de celebrar as conquistas deles e de espalhar amor e esperança em meio às adversidades da vida.

Meu filho tem 13 anos e para mim ele uma graça 😍! Por que não compartilhar isso com o mundo?

Qual é o problema de mostrar nossos filhos adolescentes durante uma viagem incrível, dançando em casa ou ganhando um campeonato de futebol? Ou ainda exibir meu bebê de fraldinha dando gargalhadas deliciosas, minha filhinha falando com a habilidade de um adulto ou meu filho comendo de tudo? Afinal de contas, a fofura extrema do ser humano na sua tenra idade nos enche de alegria e sentimentos de amor em tempos de tantas desgraças.

O pensamento de milhões de pais e mães ao redor do mundo que compartilham imagens de seus filhos e filhas desde o nascimento é:

“Que mal há em mostrar tudo isso?”

Nenhum… se vivêssemos em algum reino encantado dos contos de fadas. Mas, no cenário de “ficção-realidade-científica” de hoje, infelizmente são os vilões robóticos e as bruxas más que se beneficiam da exposição de crianças e adolescentes nas redes sociais. Cresce o número de casos veiculados nas mídias sobre o uso mal-intencionado dessas imagens por parte das empresas e redes de pedofilia. Especialmente agora com tantas ferramentas de inteligência artificial generativa sendo usadas em larga escala.

Somado a esses casos está surgindo uma geração de adolescentes e jovens adultos que está processando os próprios pais pela exposição de suas vidas desde a infância nas redes sociais. Aqui é fundamental aceitarmos que crianças não têm condição de autorizar a publicação de suas imagens. Mesmo dando a impressão de que elas adoram aparecer nas mídias sociais, mesmo que elas peçam para seus pais e avós filmarem suas façanhas, elas não tem consciência da dimensão deste problema.

Uma pergunta que precisamos nos fazer é: por que, mesmo com tantas informações e alertas sobre a necessidade de preservar os nossos jovens, ainda não conseguimos resistir à tentação de compartilhar as imagens deles?

O assunto é complexo e as razões desse comportamento por parte dos adultos são multifatoriais. Desde uma visão macro até um olhar micro, vários agentes contribuem para o problema da exposição das crianças e adolescentes nas mídias: governo, marcas de varejo, big techs, influenciadores digitais, escolas, famílias e indivíduos.

Neste texto eu vou focar apenas em um dos aspectos individuais e psicológicos – talvez o mais espinhoso de ser abordado: a necessidade emocional dos pais exibirem seus filhos.

Muitos pais e mães sentem a urgência de compartilhar orgulhosamente as conquistas e momentos especiais de suas crias. A recompensa que obtemos ao revelar ao mundo as belezas e habilidades das nossas crianças é gigantesca. Como resistir aos elogios, quantidades de likes, engajamento, aumento de seguidores e publicidades milionárias resultantes das imagens fofas e singelas da infância? Afinal de contas, é isso que abastece uma legião de adultos em busca da necessidade emocional básica de ser amado e valorizado. Esta carência funciona como catapulta para o comportamento inadequado dos adultos e explica, em grande parte, a nossa dificuldade em parar de expor as crianças.

Nesse contexto, as redes sociais tornaram-se um espelho da profunda vaidade, carência e necessidade de exibição dos adultos.

Sugiro que coloquemos a mão na consciência para refletir como cada um de nós está contribuindo para a desproteção das novas gerações na internet. Cada like que damos em um vídeo de uma criança, cada foto que compartilhamos dos nossos adolescentes e cada perfil que escolhemos seguir de pais que expõem a rotina íntima da família alimenta essa cadeia predatória que usa as novas gerações em prol do tripé Poder, Dinheiro e Vaidade. Mesmo sabendo disso, nós vamos continuar sendo coniventes com esse cenário?

Sei que algumas pessoas que estão lendo este texto podem pensar: “Ah, mas que exagero!”, “Lá vem esse papo chato de psicóloga…”, “Hoje em dia é tanto mimimi…”, “O filho é meu e eu posto o que eu quiser”… Eu entendo essa reação. Está muito difícil mesmo entrar em contato com o que acontece nos porões da infância na era digital. Aquele lugar escuro onde moram os monstros e criaturas horripilantes que sequestram e assombram nossas crianças.

Dentro desta escuridão qual caminho vamos iluminar: o dos algozes ou aquele dos guardiões? Onde estão as fadas madrinhas e os defensores da infância?

Juntos, como uma “Liga da Justiça” moderna, é hora de assumirmos a responsabilidade coletiva e agirmos em prol da proteção das crianças, evitando que sejam exploradas. Desejo que a beleza dos nossos filhos reflita ao mundo, não o nosso narcisismo, mas a esperança em uma geração que está enfrentando bravamente os vilões dos ataques em escola, dos efeitos de uma pandemia que ainda nos assombra, do susto de desastres climáticos avassaladores e do horror de guerras desumanas. Super Liga, ativar!!! 🙌