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Em 1996 Jacques Delors, ex-presidente da Comissão Europeia, propôs uma abordagem inovadora para a Educação da época. Em “Educação: Um Tesouro a Descobrir”, relatório organizado para a UNESCO, Delors descreveu quatro pilares interligados, formando uma visão holística sobre a formação educacional das crianças e adolescentes:

  • Aprender a conhecer
  • Aprender a fazer
  • Aprender a conviver
  • Aprender a ser

Apesar de muitas transformações terem ocorrido desde o lançamento do relatório de Delors, ele continua sendo um guia importante para todo o campo educacional até os dias atuais. Ao se considerar as características do mundo BANI e as metamorfoses pelas quais as estruturas sociais estão passando, é fundamental ampliarmos a nossa visão sobre o que é necessário para as novas gerações e para a sociedade em geral daqui para a frente.

Proponho, então, mais um pilar para a Educação do século 21.

APRENDER A INOVAR

Ao longo dos últimos anos tenho ajudado pessoas de diferentes faixas etárias e de diversas áreas profissionais a compreender a complexa engrenagem psicológica para inovar. Através dos cursos de Psicologia da Inovação que dou na FIAP, das aulas em pós graduação que ministro e das palestras e formações que apresento como consultora de Inovação em Psicologia e Educação eu me deparo com inúmeros exemplos de pessoas que aprendem técnicas, processos, ferramentas e metodologias para inovação, mas que se queixam da dificuldade de colocar todo este aprendizado em prática ou ainda do sofrimento que a jornada para inovar provoca no cotidiano.

Quando investigamos as razões disso vemos que existem vários fatores emocionais que contribuem ou atrapalham a capacidade de inovar. No livro “Psicologia da Inovação: o que está por trás da capacidade de inovar”, 2020 (Ed. FIAP), eu aprofundo a reflexão e proponho caminhos para a compreensão dos mecanismos psicológicos, familiares e ambientais associados à capacidade para inovação. Ser capaz de inovar nasce da habilidade de sentir, refletir e se conhecer, muito mais do que saber e fazer.

Os impactos causados pela pandemia da Covid-19 no mundo tornaram a capacidade de inovar uma questão de sobrevivência, tanto no âmbito pessoal quanto profissional. Diante disso, eu sugiro um quinto pilar para a Educação: Aprender a Inovar.

Os elementos deste novo pilar formam uma visão ampla, aprofundada e sistêmica sobre a experiência de inovar. Para isso podemos incorporar os quatro pilares descritos por Delors dentro desta nova dimensão do “Aprender a Inovar”:

  • Aprender a conhecer inovação: compreender o contexto e as características dos diferentes tipos de Inovação. Adquirir conhecimento geral sobre as ações inovadoras na sua área profissional. Buscar autoconhecimento para lidar com a jornada emocional para inovar.
  • Aprender a fazer inovação: aplicar ferramentas e metodologias para inovação em diferentes contextos, gerir processos inovadores e ser capaz de aplicar novas ideias e criar novos conceitos que tragam impacto para a sociedade.
  • Aprender a conviver com a inovação: ser capaz de lidarcom a diversidade,decolaborarcom as pessoas necessárias para que as inovações aconteçam em diferentes níveis da sociedade e de conviver você mesmo na jornada emocional para inovar.
  • Aprender a ser inovador: desenvolver a capacidade de ser inovador e original, criar uma mentalidade para inovação, exercitar habilidades para inovar e construir uma capacidade emocional para mudar, criar e transformar.

O pilar “Aprender a Inovar” traz um olhar sistêmico que engloba o cuidado com quem inova, a aprendizagem técnica, o exercício das habilidades para inovação, o desenvolvimento da capacidade psicológica de inovar e a possibilidade de compreender e aplicar inovação de várias formas e em diferentes cenários.

É possível trabalhar o pilar “Aprender a Inovar” de diferentes maneiras e adaptar esta formação para pessoas e instituições com necessidades diversas. Ao incluir esta nova dimensão no desenvolvimento de crianças, adolescentes, universitários, professores, empreendedores e gestores estaremos preparando melhor a sociedade para lidar com o avanço tecnológico e com as transformações do mundo.

Referência:

Delors, Jacques (org.). Educação um tesouro a descobrir – Relatório para a Unesco da Comissão Internacional sobre Educação para o Século XXI. Editora Cortez, 7ª edição, 2012.

Artigo originalmente publicado por Fernanda Furia no LinkedIn