Um dia desses meu filho de quase 5 anos resolveu investigar a fundo o tema da morte de uma maneira que só as crianças conseguem fazer.
De um jeito simples e natural.
E assim ele me fez várias perguntas:
“Mãe, quando a gente morre a gente vai pro céu?”, “Mas como faz pra gente chegar atéééé lá?”, “Mãe, Papai Noel morre?”, “Mãe, quando você vai morrer?”, “E por que a gente morre?”, “Mãe, quando a gente vai pro céu a gente fica lá pra sempre?” e assim continuou a sua investigação por alguns dias…
Mas um de seus simples e, ao mesmo tempo, complexos questionamentos tocou mais o meu coração:
“Mãe, tem parquinho no céu?”
Diferentemente das outras respostas que dei para ele cheias de “Não sei…“, nesta pergunta eu resolvi saber o que ele achava. Ele respondeu: “Eu acho que tem!”.
Ponto.
E aí me veio uma enxurrada de pensamentos e reflexões sobre as crianças, a morte e o brincar.
Lembrei das inúmeras vezes nas quais, atuando no consultório, fui indagada sobre como podemos falar sobre a morte com as crianças. Senti na pele a angústia de muitos pais ao serem questionados de forma tão direta pelos seus filhos sobre este tema misterioso e impactante na nossa sociedade.
Através destas reflexões revivi momentos de lutos repetidos que tive de enfrentar ao longo da minha vida quando perdi meu irmão, meus avós e meus pais. Conheci o sofrimento em estado bruto e a morte de forma explícita.
Desde então tenho de escolher constantemente entre viver assombrada por todas estas mortes ou simplesmente… brincar com elas.
Vocês devem estar se perguntando: “Mas como assim? Brincar com a morte?”
Bom, já que não dá pra esquecer as perdas que a vida nos impõe nem fingir que elas nunca existiram, que tal escolher levá-las mais na esportiva, senti-las de um jeito mais leve e encará-las como algo menos sofrido?
Depois de uma perda significativa e de tantas obrigações e burocracias para resolver, podemos escolher romper com o que nos faz mal e voltar a fazer coisas que nutrem a nossa alma.
Podemos escolher perder a noção do tempo fazendo algo que nos dá prazer. Escolher valorizar as coisas e os momentos mais simples. Podemos escolher rir mais do que chorar. Podemos resgatar amigos queridos e gargalhar com eles. Podemos nos abrir para novos encontros. Podemos escolher entender melhor a dor dos outros. Podemos nos movimentar mais e brincar com o corpo. Podemos escolher dizer mais “Sim” para os nossos filhos e para nós mesmos. “Sim” para os banhos de chuva. “Sim” para os pés descalços. “Sim” para os pequenos prazeres do cotidiano. “Sim” para as aventuras da vida…
Com responsabilidade e leveza.
É neste espírito de brincar que a morte e a vida podem se encontrar e se divertir juntas. Ora o choro e a tristeza reinam. Ora o riso e a sensação de bem-estar tomam conta.
Nesta dança entre os sentimentos podemos lidar com a morte de uma forma mais lúdica.
Assim é possível falar sobre ela com as crianças sem tanto medo nem angústia. De um jeito simples. Como as crianças fazem tão bem e precisam tanto.
Se tem parquinho no céu nós não temos certeza, mas sabemos que tem parquinho aqui na Terra. E é no parquinho que as crianças florescem. E é no brincar do cotidiano que os adultos desabrocham.
Espero que a minha família que se foi esteja brincando nas nuvens… E espero que a gente aqui possa brincar cada vez mais nos playgrounds da vida…