Você sabe o que é e para que serve uma gestão psicológica da inovação? Muito se fala sobre os diferentes tipos de inovação e sobre as ferramentas e metodologias mais adequadas para inovar, mas o que fazer com todos os aspectos psicológicos das pessoas que fazem a inovação acontecer?

No artigo “Por que desenvolver uma gestão psicológica da inovação?” publicado pelo portal Whow!, especializado em Inovação para negócios, pude explicar um pouco sobre este tema.

Segue o texto abaixo:

POR QUE DESENVOLVER UMA GESTÃO PSICOLÓGICA DA INOVAÇÃO?

Por Fernanda Furia

O conhecimento que temos hoje sobre Inovação é bastante amplo. São inúmeros livros, metodologias e guias que apoiam a prática da Inovação em diversos cenários. Temas relacionados com os diferentes tipos de inovação, modelos de negócios inovadores, estratégias para inovação, cultura inovadora, gestão da inovação e ferramentas eficazes para inovar são alguns exemplos das informações que nos nutrem na hora de inovar. 

Todos desejam a inovação. Então, por que tantas pessoas ainda têm dificuldade para inovar? Como tornar a experiência de inovar mais leve?

Existe uma dimensão que vem sendo muito negligenciada: os mecanismos psicológicos de quem inova e o impacto deles nos processos de inovação nas organizações. Para sermos capazes de utilizar toda a gama de ferramentas disponíveis e seguirmos as diferentes etapas de um processo de inovação é necessário termos, antes de tudo, um terreno psicológico fértil para inovar. Isto vai muito além da capacidade de ser criativo e do desenvolvimento das chamadas soft skills ou competências para o futuro. 

A capacidade de inovar é resultado de uma engrenagem psicológica complexa. Seja para desenvolver um novo produto em uma grande empresa, para implementar uma metodologia inovadora em uma escola, para empreender ou para reinventar a própria carreira, inovar exige um tipo de funcionamento psíquico particular que demanda muita energia emocional. 

A Dor da Inovação

No decorrer dos dezessete anos de atuação como psicóloga clínica, atendendo desde crianças até adultos, e dos sete anos como consultora de inovação em Psicologia e Educação, eu me deparei com diferentes situações que evidenciaram a dificuldade que muitas pessoas têm para mudar, reaprender e inovar. Tanto no contexto escolar quanto organizacional, detectei pensamentos e atitudes de educadores, famílias, alunos, empreendedores e gestores que demonstravam sofrimento emocional ao inovar. Muitas vezes esta dor aparecia por meio da recusa em abordar o tema da inovação, da preguiça para aprender novas ferramentas, do autoboicote, da dificuldade para implementar etapas de um processo de inovação e da falta de energia para mobilizar pessoas e transformar a cultura da organização. Esses comportamentos revelam aspectos psicológicos escondidos que agem como forças contra a capacidade para inovar. Michael Schrage, no artigo “Confronting the pain of Innovation (Harvard Business Review, 2012) abordou o tema da ‘dor da inovação’ ao observar que as organizações que levavam a sério a inovação eram cheias de pessoas com um sofrimento genuíno ligado aos processos inovadores.

É verdade que estamos incluindo cada vez mais o componente humano no campo da Inovação, principalmente através das abordagens da Inovação Centrada em Humanos e da Antropologia da Inovação. Entretanto, este olhar ilumina a compreensão dos hábitos, das necessidades e das dores dos usuários que usufruirão os produtos e serviços resultantes dos processos de inovação. Além disso, é certo também que muitas empresas investem em treinamento e gestão dos seus colaboradores a fim de garantir uma mentalidade para diversidade, de recompensar as ideias inovadoras e de desenvolver novas habilidades e criatividade. Porém, tudo isso não é suficiente para proteger as pessoas contra as armadilhas psicológicas escondidas nos caminhos para inovar. 

A Psicologia da Inovação

A Psicologia da Inovação propõe uma mudança no ângulo de posicionamento. Desta forma, ela analisa a dimensão psicológica das pessoas e equipes que produzem inovação. Cuidar de quem inova é um caminho potente para tornar todo o processo de inovação mais eficiente e emocionalmente saudável. No livro “Psicologia da Inovação: o que está por trás da capacidade de inovar” (Ed. FIAP) proponho uma visão ampla e aprofundada sobre as raízes do comportamento inovador, a potência do brincar adulto para inovar, a Psicologia da Resistência à Inovação e os complexos mecanismos psicológicos que influenciam a capacidade de inovar em diferentes contextos.

Quando nos lançamos em uma jornada de inovação abraçamos intensas emoções, o desconhecido, o risco, a possibilidade de fracasso, os limites, o caos e a incerteza. Muitas vezes o ato de inovar gera um custo psicológico muito alto e se não consideramos este aspecto partiremos sem apoio nesta jornada. O desamparo ao inovar ativa dificuldades emocionais vividas previamente na vida, reforçando mecanismos de defesa contra a inovação e acentuando funcionamentos nocivos ao nosso desenvolvimento pessoal. Precisamos de combustível emocional e de amparo psicológico para enfrentarmos os percalços da inovação. 

Para alcançar um olhar sistêmico com relação à inovação devemos incluir uma gestão psicológica integrada às diversas práticas inovadoras dentro das organizações.

A Gestão Psicológica da Inovação

Gestão Psicológica da Inovação é um conjunto de ações para cuidar das pessoas e equipes envolvidas em um processo de inovação dentro das organizações. É uma iniciativa pioneira desenvolvida pelo Playground da Inovação e alinhada a alguns pilares da ISO da Inovação (56002) para compreender o cenário psicológico das pessoas envolvidas numa jornada para inovação.

Considerando as especificidades de cada cultura organizacional, o trabalho de gestão psicológica da inovação se utiliza de situações reais da empresa, criando em conjunto com os colaboradores estratégias sob medidas para ampliar a capacidade psicológica para inovar das equipes e lideranças. A gestão psicológica da inovação atua, ao mesmo tempo, como guardião da saúde mental de quem precisa inovar e como antídoto contra a paralização e a inércia organizacional para a inovação.

Os objetivos da gestão psicológica da inovação envolvem:

  • Avaliar a maturidade psicológica das pessoas para inovar.
  • Reconhecer os paradoxos que emperram a inovação.
  • Acolher a gama de emoções ligadas à experiência de inovar.
  • Identificar possíveis Psicopatologias da Inovação.
  • Detectar mecanismos de defesa para inovar.
  • Traçar estratégias para ampliar a capacidade psicológica de inovar.
  • Proporcionar ferramentas que favoreçam o desenvolvimento das habilidades para inovação.
  • Adaptar ambientes físicos e digitais para acolher os mecanismos psicológicos inerentes à inovação.  

Imagem do site Whow! para o artigo “Por que desenvolver uma gestão psicológica da inovação?” da autora Fernanda Furia)