Um dia desses meu filho de 5 anos me falou: “Mãe, eu quero aprender a andar de bicicleta sem rodinha”.
Sabemos que quando uma criança, por conta própria, decide se aventurar em novos terrenos tudo flui de maneira mais rápida e fácil.
Fácil?
Será?
Bom, lá fomos nós.
O pai correndo na frente para checar prováveis obstáculos e garantir a segurança do filho. Mesmo sabendo que não existem garantias nessa vida.
Eu, correndo junto do meu filho, segurando o selim para tentar garantir o seu equilíbrio e a sua segurança.
No meio, um menininho cheio de energia, expectativas e coragem….
“Mãe, me solta!!! Eu quero ir sozinho!”
Não soltei.
“Mãe, me soltaaaa!!! Eu quero ir sozinho!”
Não soltei.
“Mãe, eu QUERO ir sozinhoooo!”
….SOLTEI !!
E lá se foi, afastando-se da mãe, o meu menininho. Ganhar liberdade e independência. Sentir o vento no rosto. Se aventurar nas rodas da vida…
Até cair.
Irritação. Choro e rebeldia.
Fomos lá. O ajudamos a se levantar e a se acalmar.
Mais uma tentativa e lá se foi o menino novamente. O prazer no rosto, o sorriso da conquista e a sensação de poder.
Até cair de novo.
Raiva e frustração. “Eu odeio bicicleta!”.
Fomos lá. O ajudamos a se levantar e a se acalmar. E lá se foi meu filho…Se equilibrar e ganhar o mundo…
Com o tempo, a raiva e frustração foram dando lugar à sabedoria de que as quedas são parte normal da roda da vida.
E assim, por alguns dias, foi acontecendo esta magia que é o desenvolvimento de uma criança.
Revivi ainda as minhas quedas e conquistas de quando o meu pai me ensinou a andar de bicicleta sem rodinhas. E do momento em que ele soltou o selim para que eu pudesse ganhar o mundo.
Nestas reminiscências do passado e na experiência atual com o meu filho me dei conta de como aprender a andar de bicicleta sem rodinhas é uma metáfora linda da vida.
É um aprendizado de lições que servirão para sempre… Quantas habilidades para a vida se condensam em uma única experiência!
Tomar a decisão de começar. Ter coragem de tentar algo novo. Ousar fazer sozinho. Pedir e aceitar ajuda quando necessário. Aceitar cair, brigar consigo mesmo e se perdoar. Ser resiliente para levantar várias vezes. Acreditar que é possível novamente. Ter criatividade para experimentar novos caminhos e possibilidades… Permitir sentir o sucesso de um objetivo alcançado. E ser capaz de administrar as tantas e intensas emoções que te movem a continuar e, ao mesmo tempo, te puxam para desistir…
Nas rodas da vida os filhos precisam ter coragem de alçar seus próprios vôos e se soltar do porto seguro.
Nas rodas da vida pai e mãe precisam ser capazes de soltar seus filhos. Precisam se emocionar com as conquistas dos seus pequenos e, acima de tudo, abraçar as suas quedas. E estimulá-los a se levantar novamente.
A bicicleta, assim como a vida, nos desafia, nos deslumbra e nos mostra que muitas vezes só precisamos de um empurrãozinho para voar.