Você sabe se é Nativo Digital, Imigrante Digital ou Sábio Digital?
Em 2001, Marc Prensky, um dos estudiosos mais renomados na área de Educação e Tecnologia, deu o nome de Nativo Digital para a pessoa que já nasceu inserida no mundo digital e portanto, sente-se totalmente à vontade com a tecnologia e vive mergulhada na conectividade.
Assim como a nossa língua materna está entranhada nas nossas células, crianças e adolescentes de hoje tem a língua digital impressa em seus DNAs. Eles são os nativos digitais, nascidos em meados dos anos 90. Para eles toda essa tecnologia é como a eletricidade para os mais velhos: é impossível viver sem ela. Só que a internet permite uma interação pró-ativa, incentivando a criação e a transformação dos conteúdos da rede.
Já nós, adultos, somos Imigrantes Digitais. Chegamos maduros nesta terra conectada e temos que fazer um esforço enorme para aprender esta nova língua. E nunca deixaremos de ter o sotaque característico de quem aprende um novo idioma na vida adulta. Ou seja, nunca nos livraremos do padrão de pensamento analógico.
Porém, nosso esforço para aprender e para lidar com todas as rápidas transformações geradas pela tecnologia tem um impacto direto em nosso cérebro.
Segundo Prensky, este efeito é positivo e se soubermos usar a tecnologia a nosso favor nos tornaremos “Sábios Digitais”. “No século 21 os humanos precisam de mentes melhores… E nós estamos conseguindo isso”.
O nosso cérebro está crescendo e se desenvolvendo externamente através de uma simbiose com a tecnologia. Ou seja, por causa desta nova interação o nosso cérebro está rapidamente ganhando mais poder e novas habilidades. Nos seus mais recentes livros “From Digital Natives to Digital Wisdom” e “Brain Gain: technology and the quest for wisdom” (2012), Prensky desenvolve esta idéia e descreve o conceito de Sabedoria Digital, referindo-se a dois aspectos:
– a sabedoria e conhecimento adquiridos através das ferramentas tecnológicas
– e, principalmente, a sabedoria no uso da tecnologia para melhorar e ampliar as nossas capacidades cognitivas inatas. Precisamos cada vez mais aprender sobre cidadania digital.
Estamos nos tornando Homo Sapiens Digital. Ou seja, o uso sábio da tecnologia permite que nos tornemos humanos cognitivamente mais capazes para tomar decisões adequadas. Apesar da tecnologia sozinha não substituir o senso intuitivo do que é importante e ético, ela permeia todas as nossas decisões e resoluções de problemas.
Sabemos que estamos passando por uma revolução. Mas, desta vez, não é como as outras que já aconteceram. A Revolução Digital atinge níveis tão profundos e amplos da sociedade global que talvez nunca tenhamos um entendimento real da dimensão destas transformações. Mudamos a maneira de nos relacionar com as outras pessoas, com os objetos, com as máquinas, com a natureza e com nós mesmos.
Vivemos uma Era onde a humanidade está atingindo um novo nível de evolução cognitiva. E nas crianças e jovens digitais isso fica mais evidente.
Esta diferenciação entre nativos, imigrantes e sábios digitais tem sido uma maneira muito útil de explicar as profundas diferenças entre as crianças de hoje e os adultos. Elas são diferentes de todas aquelas crianças nascidas anteriormente e não mudaram simplesmente suas gírias, suas roupas ou seus comportamentos, como aconteceu com as gerações anteriores.
A mudança está acontecendo no nível cerebral. O padrão de pensamento delas mudou, pois suas experiências são muito diferentes das que nós, adultos, tivemos durante as nossas infâncias. Elas pensam e processam as informações de uma forma inteiramente nova. Bruce Perry da Baylor College of Medicine afirmou: “Diferentes tipos de experiências levam a diferentes estruturas cerebrais“. Uma criança que cresceu na era digital desenvolve uma mente tipo hyperlink em que o raciocínio não é linear, mas paralelo. Ou seja, ele pensa em diferentes coisas ao mesmo tempo paralelamente, sem precisar criar uma sequência entre as idéias. E isso não significa necessariamente falta de concentração.
Estas mudanças não tem volta.
É vital que adultos- pais, professores, médicos, executivos- estejam dispostos a aprender de verdade a língua digital e a entender o impacto que ela tem sobre o cérebro e o comportamento das suas crianças e jovens. Existe um abismo entre a visão dos adultos sobre a vida desta geração e a experiência real destes jovens. Não é apenas um conflito de gerações como tantos outros na História. É um desencontro profundo de vivências.
Não estamos conseguindo falar a mesma língua! E isso é muito sério, pois toda a sociedade é afetada por essa falta de comunicação. Famílias, escolas e empresas precisam passar por uma profunda reformulação para lidar com os novos desafios decorrentes da Revolução Digital e das exigências desta geração.
Precisamos ser sábios para abraçar essas mudanças, para usufruir das nossas novas habilidades cognitivas de maneira ética e, acima de tudo, para ensinarmos as nossas crianças a fazer o mesmo.