Ao mesmo tempo que tanto se fala em Inteligência Artificial este termo ainda parece ser aquele primo bem distante que poderá nos visitar algum dia.
Só que ele já chegou!
Veio sem ser convidado e trouxe mala, cuia, laptop, smartphone, tablet e mais algumas surpresinhas na bagagem.
E, dentre outras coisas, chegou ainda para brincar e ensinar nossos filhos…
Como receber este hóspede que vai cada vez mais participar da nossa vida mesmo que a gente não queira?
Primeiro é necessário conhecê-lo um pouco.
Inteligência Artificial é uma área da Ciência da Computação que estuda e cria computadores que podem simular a capacidade humana de pensar, de tomar decisões e de resolver problemas.
Este campo é bastante complexo e existem várias linhas de pesquisa e aplicação. Por exemplo, existem serviços de atendimento ao consumidor que utilizam a inteligência artificial para esclarecer nossas dúvidas e nos orientar. Alguns cientistas desenvolvem robôs que aprendem de forma independente e analisam grande quantidade de dados para auxiliar na tomada de decisão de problemas complexos em empresas. Existem ainda pesquisadores que criam robôs inteligentes para nos auxiliar nas tarefas domésticas, tornando nosso dia a dia mais prático.
Enfim, estes são apenas alguns dos inúmeros exemplos de como a Inteligência Artificial já está nos visitando. Há muito tempo…
Só que isso não para por aí…
Estão pipocando projetos em várias universidades de renome na área de Inteligência Artificial que vão além. Eles estão criando “robôs sociais” com o objetivo de nos fazer companhia, de conversar conosco e até de compreender as nossas emoções. E estas máquinas socialmente capazes estão sendo desenvolvidas para interagir também com as crianças e com os idosos.
Estamos entrando em uma era na qual nos apegaremos emocionalmente às máquinas inteligentes.
Brinquedos não tão recentes como Furby e My Real Baby, por exemplo, não só interagem com as crianças como vão desenvolvendo uma personalidade própria a partir da forma com a qual a criança trata e cuida deles. Este relacionamento entre a criança e a máquina evoca nos pequenos seres humanos sentimentos que os fazem se relacionar com o brinquedo como “quase-pessoas”.
Com aparência infantil robôs super simpáticos como o Jibo prometem ser aquele primo fofo que veio para ficar e para nos ajudar a tornar o nosso cotidiano menos solitário.
A invenção destes produtos provoca vários questionamentos: “Por que estamos criando este tipo de máquina?”, “Quais são os benefícios e malefícios que os robôs podem nos trazer?”, “A quais questões éticas precisamos ficar atentos?”, “Em quais áreas a Inteligência Artificial deve ser aplicada?”, “Como as crianças e os adolescentes de hoje vão lidar com este cenário a medida que eles crescem? Como será o futuro da infância?”.
Os bebês precisam de contato com os pais, de interação social, de uma sociedade empática e de exemplos que as ensinem valores humanos, ética e bom senso. Através destas interações a personalidade da criança vai tomando forma e vai direcionando boa parte do seu futuro como adulto.
É disso que a Inteligência Artificial está precisando também neste início da sua vida na História da Humanidade. De seres humanos que possam ensinar as máquinas a serem inteligentes de forma ética e cuidadosa. De pessoas que desenvolvam sistemas capazes de perceber a importância de ser honesto. De grupos de profissionais interdisciplinares que reflitam juntos sobre como devemos educar a Inteligência Artificial.
Crianças que são privadas de um ambiente emocional e social acolhedor tendem a crescer com diversos distúrbios de comportamento. Da mesma forma, máquinas que são privadas do cuidado e da supervisão de seres humanos podem se tornar frias, pouco empáticas e anti-éticas.
Portanto, a Inteligência Artificial e o desenvolvimento de uma criança têm em comum a necessidade vital de cuidado humano e de interações adequadas.
A Inteligência Artificial está nos impondo novos dilemas éticos, novas formas de relacionamento entre as pessoas e uma nova dimensão de relação emocional com seres “quase humanos”.
Então, vamos receber e acolher com cautela este visitante que veio para morar na nossa casa. Só assim poderemos criar um futuro onde a relação humano-máquina não substitua o contato emocional entre as pessoas. Um futuro onde as máquinas atendam as necessidades humanas e sejam nossas parceiras de trabalho e de vida sem ameaçar a nossa existência.