Diante de tantas mudanças no mundo como será o futuro da infância? De que forma as tecnologias avançadas estão influenciando a maneira como as crianças e adolescentes se desenvolvem?

Eu lido de várias formas com o universo infanto-juvenil há quase 25 anos. Como estudante durante a faculdade de psicologia e em duas especializações sobre desenvolvimento infantil. Como psicóloga clínica durante 17 anos quando atendia crianças e adolescentes. Como pesquisadora e observadora de bebês e crianças pequenas no meu mestrado em Psicologia na Inglaterra. Como estudiosa de pesquisas, relatórios nacionais e internacionais sobre tendências de comportamento infantil e estudos sobre o futuro. Como voluntária lendo para para crianças de até 6 anos. Como mãe de um menino de quase 7 anos. Como observadora do comportamento das crianças e dos seus pais nos ambientes infantis que frequento. Como consultora de inovação em psicologia e educação. E como ser humano que testemunha transformações profundas na sociedade desencadeadas pelos avanços tecnológicos que todos os dias impactam a vida de milhões de crianças e adolescentes ao redor do mundo.

Ao longo desta jornada vivenciei a chegada da tecnologia. Sorrateiramente e, ao mesmo tempo, rapidamente ela foi fazendo parte das nossas rotinas, mudando os nossos hábitos e transformando a maneira como nos relacionamos com as coisas e com as pessoas.

As crianças nascidas a partir de 2010, conhecidas como Geração IA (Inteligência Artificial) ou Geração Alpha, experimentam as dores e as delícias de um mundo mediado por tecnologias poderosas. Internet dos brinquedos, Realidade virtual, inteligência artificial, Big Data, computação afetiva e Internet das Coisas que Cuidam são alguns exemplos de tecnologias que já estão impactando diretamente as gerações digitais e que se tornarão mais potentes e fáceis de usar.

E assim caminha a infância… Dentro deste contexto, como será o futuro das crianças?

Este assunto é amplo e polêmico. Selecionei três aspectos que merecem muita atenção.

Monitoração e Dataficação da Infância: vários produtos e serviços direcionados aos bebês e às crianças registrarão o dia a dia, os hábitos, os comportamentos, as emoções e a saúde dos pequenos. Isso vai gerar uma enorme quantidade de dados salvos em nuvem sobre cada criança e permitirá um monitoramento constante da infância.

– Robotização da infância: robôs sociais estão sendo criados para se relacionar e interagir com as pessoas. Dotadas de tecnologias avançadas, humanizadas e invisíveis estas máquinas serão cada vez mais usadas para auxiliar as crianças de diversas formas. Aos poucos, a personalidade das crianças será moldada também pela interação com robôs feitos para encantar.

Apego às máquinas: a geração IA crescerá com máquinas inteligentes e se apegará à elas. Além disso, muitas vezes as crianças tenderão a confiar mais nas máquinas do que nas pessoas.

Neste mar ultra tecnológico, o porto seguro das crianças será cada vez mais o colo acolhedor, o olhar atento e o interesse genuíno dos adultos. Novos dilemas éticos estão surgindo e nos impondo práticas ainda mais alinhadas com os direitos e com o bem-estar das crianças. Para o bem e para o mal as tecnologias avançadas se tornarão cada vez mais poderosas e responsáveis por um novo cenário infantil.

Por isso, precisamos desenvolver urgentemente a nossa inteligência emocional digital e criar tecnologias que atendam as necessidades dos seres humanos e que respeitem o quê as crianças precisam de verdade.

O futuro da infância é também o futuro da humanidade.

 

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